BIODIVERSIDADE MALACOLÓGICA PROVENIENTE DA DRAGAGEM PARA A ENGORDA DA PRAIA DE MATINHOS – PARANÁ, BRASIL


Título: BIODIVERSIDADE MALACOLÓGICA PROVENIENTE DA DRAGAGEM PARA A ENGORDA DA PRAIA DE MATINHOS – PARANÁ, BRASIL
Palavras-chave: conchas, sedimento

Autores: PABLO DAMIAN BORGES GUILHERME, MARCOS DE VASCONCELLOS GERNET, RAFAEL METRI, MAYARA CARNEIRO BELTRÃO, NATALIA JOANA REBELLO DA CUNHA, OSWALDO RIBEIRO JUNIOR, FERNANDO LUIZ DIEHL, CARLOS EDUARDO BELZ

Introdução:

A intensa urbanização altera o equilíbrio sedimentar das áreas costeiras. Construções próximas ou sobre a praia e dunas impedem o fluxo de sedimento causando erosão. Uma abordagem para esse problema é o engordamento, consistindo em adicionar sedimento dragado proveniente de jazidas sedimentares próximas, recuperando a largura da faixa de costa (Dean, 2002). Esse sedimento de origem marinha traz organismos e vestígios, e.g., conchas de gastrópodes e bivalves (Ponder & Lindberg, 2008). O objetivo deste trabalho foi avaliar qualitativamente a riqueza de moluscos provenientes do recente engordamento da praia de Matinhos, no litoral do Paraná, cuja jazida situava-se próxima à orla.
Metodologia:

Em 2022 a praia de Matinhos foi alargada em até 100 metros ao longo de uma extensão de 6,3 quilômetros, num total de 3,2 milhões de metros cúbicos de sedimentos dragados, provenientes de uma jazida a 4500 metros de distância da praia. Foram realizadas coletas manuais das conchas de moluscos ao longo de toda a intervenção do processo de engorda. A identificação das espécies e ordenação sistemática foi realizada em laboratório, chegando ao menor nível taxonômico possível, depois de análises conquiliométricas minuciosas, possibilitando a identificação através de literatura especializada. A atualização sistemática foi feita utilizando-se a plataforma World Register of Marine Species (WoRMs, 2024). Apesar do excelente estado de conservação da maior parte dos exemplares, algumas conchas apresentavam-se extremamente danificadas, não sendo possível sua identificação taxonômica. Os exemplares coletados foram tombados na coleção malacológica do LEBIO (Laboratório de Ecologia e Bioinvasões, do Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná). Posteriormente todos os exemplares foram fotografados digitalmente, devidamente medidos com paquímetro de precisão e farão parte no futuro de um guia de identificação de conchas provenientes da engorda da praia de Matinhos.

Resultados e Discussão:

Ao todo foram registradas 66 espécies de 34 famílias, sendo 16 famílias da classe Bivalvia (Anatinellidae, Arcidae, Cardiidae, Donacidae, Glycymerididae, Lucinidae, Mactridae, Naticidae, Ostreidae, Pectinidae, Plicatulidae, Psammobiidae, Semelidae, Tellinidae, Ungulinidae, Veneridae), 17 famílias da classe Gastropoda (Buccinanopsidae, Calliostomatidae, Calyptraeidae, Cassidae, Columbellidae, Conidae, Cymatiidae, Eulimidae, Fissurellidae, Muricidae, Nassariidae, Naticidae, Olividae, Strombidae, Tegulidae, Terebridae, Vermitidae) e uma família (Dentaliidae) de Scaphopoda.
As espécies registradas são uma mescla de organismos de origem pretérita (identificados por suas conchas que apresentam características morfológicas típicas) e também por animais recentes. Os exemplares mais antigos são provenientes de camadas mais profundas (jazidas biodetríticas de bancos fossilíferos) que remetem a duas épocas (Pleistoceno e Holoceno) do Período Quaternário (Barboza et al., 2021). Essas conchas geralmente estão escurecidas, porque mantiveram-se enterradas durante muito tempo em condições anóxicas.
As espécies com mais registros foram Anadara brasiliana, Crassostrea brasiliana, Glycymeris longior, Eucallista purpurata, Olivancillaria vesica, Hastula cinerea, Stramonita haemastoma e Psammotella cruenta. Estas espécies ou suas conchas são encontradas corriqueiramente na região de entremarés, já observadas em inúmeros estudos (Absher et al., 2015; Gernet et al., 2018). Outras tiveram registros mais raros, como por exemplo Anachis catenata, Calliostoma adspersum, Cooperella atlantica, Morula morum, Naticarius canrena, Proteopitar patagonicus.
Além destas, o processo de dragagem para o engordamento da praia de Matinhos trouxe algumas espécies muito raras e emblemáticas, não ficando claro sua origem, podendo estar associadas às jazidas biodetríticas ou vivendo em comunidades mais no fundo, geralmente inacessíveis. São elas: Agaronia travasossi, Conus clerii, Cymatium parthenopeum e Buccinanops moniliferum.

Conclusão:

A engorda da praia em Matinhos, no litoral do estado do Paraná, oportunizou o registro de dezenas de espécies de moluscos. Além do aproveitamento científico das ocorrências, os registros serão divulgados na forma de um guia para valorização dessa biodiversidade malacológica e também como ferramenta de divulgação científica nas escolas da região. Exemplares de todos os táxons estão sendo fotografados e organizados juntamente com informações relevantes de sua anatomia e ecologia para compor a obra.

Referência Bibliogáfica:

Absher, T., Ferreira Jr, L., Christo, S. 2015. Conchas de moluscos marinhos do Paraná. Rio de Janeiro: Publiki. 20p.
Barboza, E. G., Dillenburg, S. R., do Nascimento Ritter, M., Angulo, R. J., da Silva, A. B., da Camara Rosa, M. L. C. & de Souza, M. C. 2021. Holocene sea-level changes in southern Brazil based on high-resolution radar stratigraphy. Geosciences, 11(8), 326.
Gernet M.V., Colley E., Santos E.V. & Birckolz C.J. 2018. Diversity and community composition of marine mollusks fauna on a mainland island of the coast of Paraná, southern Brazil. Pesquisa e Ensino em Ciências Exatas e da Natureza, 2(1): 48–59. http://dx.doi.org/10.29215/pecen.v2i1.580

Fontes Financiadoras:

Área:
COLACMAR CBO 2024 – Oceanografia Biológica

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